5° FIANB - Festival Internacional do Audiovisual Negro do Brasil - Cinema em Pretoguês
Brasil | 11/11/2024 a 24/10/2024
Continuando o diálogo que se apresentou na 4 edição do FIANB, o debate sobre circulação e distribuição é ampliado e se soma ao debate sobre produção de imagem. Tendo como ponto de partida a afirmação de que Cinema Negro é Cinema Brasileiro, nesta 5 edição indagamos a escritura de um cinema brasileiro que é fomentada pelas epistemologias negro-africanas. No embate que se dá no Cinema Brasileiro atualmente, com a confecção de novas imagens, não é apenas a subjetivação que está comprometida com as negociações de outras e novas leituras de mundo, mas o próprio entendimento do que é a nação. É o que propôs a antropóloga e intelectual Lélia Gonzalez ao conceitualizar a Améfrica Ladina. Para a autora, é necessário um novo olhar para as formações histórico-culturais do Brasil e América Latina, atentando-se para as contribuições africanas e indígenas para a consolidação de um país como o Brasil, como por exemplo, a língua que foi amplamente modificada por estas contribuições, uma vez que as influências das palavras no que viria a se formar o português – ou melhor, pretuguês – deram-se em um cruzamento de palavras de diversas etnias. Para Gonzalez,
Essas e muitas outras marcas que evidenciam a presença negra na construção cultural do continente americano me levaram a pensar a necessidade de elaboração de uma categoria que não se restringisse apenas no caso brasileiro e que, efetuando uma abordagem mais ampla, levasse em consideração as exigências da interdisciplinaridade. Desse modo, comecei a refletir sobre a categoria de amefricanidade. (GONZALEZ, 2020, p.129).
A escravização que é marca da formação deste país pode ser verificada no nosso jeito de falar, para além de outras características culturais como o samba, a comida e a dimensão racializada que se expressa aqui. A marca desse período histórico é pouco visualizada na contribuição linguística, no entanto, é justamente nela que se pode ver a colaboração das culturas africanas no que hoje chamamos de Brasil. Para o povo bantu a letra L é inexistente, e é por isso que se fala “framengo”. O erro aqui é herança.
Cinema em Pretuguês, para além de um percurso pela história da formação do Brasil que está distante dos livros de gramática, mas perto das encruzilhadas do cotidiano, é um convite para pensar a narrativa nacional em teia – aquela que é construída por muitas vozes que se mostram através das frestas sociais. Uma formação que só existe porque é feita a partir de outras relações. Como seria possível um cinema negro que se reinventa e reformula na linguagem, utilizando dos ditos populares para criar novas imagens?
Kariny Martins e Tatiana Carvalho Costa.